domingo, 24 de maio de 2015

EUA protegem em seu território o assassino do monsenhor Óscar Romero


 
Álvaro Saravia, ex-capitão da Força Aérea e assassino confesso de Dom Óscar Romero, ainda estaria vivo e morando nos EUA.

Neste sabado (dia 23 de maio), a Igreja Católica beatificará o monsenhor Óscar Arnulfo Romero, sacerdote salvadorenho assassinado em 1980 por Álvaro Saravia, franco-atirador e capitão da Força Aérea. A Junta Militar salvadorenha deu a ordem para liquidar Romero por suas denúncias abertas contra a repressão oficial. Trinta e cinco anos depois, a justiça segue sem punir os autores materiais e intelectuais deste crime.

No ano passado, em "Caribe Nuestro” [Nosso Caribe] conversamos com o sacerdote jesuíta Bruno Renaud sobre a vida e o legado de monsenhor Arnulfo Romero. Continuando repomos a nota na qual Renaud relata que o assassino de Romero está em território estadunidense protegido pelas autoridades deste país.

Quem foi monsenhor Romero?
"Ele foi um bispo da cidade de San Salvador. Foi eleito por ser um bispo de muita retidão em suas ações, mas, no entanto, muito conservador do ponto de vista social”, explica Bruno Renaud.
Monsenhor Romero fez sua conversão à raiz do assassinato de um amigo sacerdote por parte dos militares. Mataram-no, supostamente, porque era comunista, mas monsenhor Romero sabia que isto era falso.

"Este crime foi para monsenhor Romero o início de um processo de questionamento fundamental, sobretudo, do ponto de vista social”, comenta Renaud.

O reino da desigualdade

Nessa época, El Salvador estava marcado pela desigualdade social. Quatorze famílias controlavam a riqueza do país. Ademais havia uma longa tradição de camponeses massacrados.
"Entretanto, monsenhor Romero não estava comovido por isto, e foi necessário que um amigo sacerdote fosse assassinado, para que ele começasse a questionar totalmente sua própria vida social e seus compromissos”.

A partir desse momento, monsenhor Romero aplicou ao pé da letra "a opção pelos pobres”. "Nesse contexto, monsenhor se converteu e começou a ler, a perguntar e aí foi onde realmente nasceu o novo monsenhor Romero”, prossegue Renaud.

"Tal como Jesus, monsenhor Romero teve dois anos e meio de uma vida ‘nova’, mas extremamente ativa e muito comprometida, para mudar suas opções até esse momento”, acrescenta. Resposta do Vaticano
"O trágico na vida de monsenhor Romero foi que o bispo de Roma, o Papa naquele momento, João Paulo II, Karol Wojtyla, não estava sensibilizado ante esse tipo de testemunhos. Quando monsenhor Romero quis explicar-lhe a gravidade do conflito prolongado em El Salvador e a importância de optar pelos pobres fisicamente aniquilados pelo exército, o Papa não entendeu”.

"O Papa o escutou friamente, com distância, sem nenhuma convicção, e disse ao monsenhor que ele tinha que fazer um esforço para se reconciliar com o governo salvadorenho. Disse isso o papa que, durante toda a sua vida na Polônia, tinha sido um opositor ferrenho do seu próprio governo”.

"O próprio Romero contava entre lágrimas sobre essa entrevista com João Paulo II, que teve lugar um mês antes do assassinato de Romero”, recorda Renaud.


E os responsáveis?

A 34 anos [este ano, 35] do assassinato de Romero, se sabe quem foram os autores intelectuais e materiais do crime. "O responsável intelectual foi o major Roberto D’Aubuisson, três vezes candidato à presidência salvadorenha, de extrema direita fascista. O franco-atirador contratado foi o ex-capitão da Força Aérea do país centro-americano, Álvaro Saravia. Ele confessou vários anos depois, mas é protegido nos EUA e nunca pagou por seu crime. Ele voltou ao anonimato. Não sei se continua vivo ainda”, conta Renaud. D’Aubuisson foi fundador do partido de direita Arena, foi agente da CIA, criador e máximo chefe dos esquadrões da morte. Ele morreu em 1992.

"A morte de Romero não foi o único crime conhecido dos militares salvadorenhos. Uma equipe de sacerdotes da Universidade Católica da América Central foi assassinado em 1989. Tiraram eles dos seus quartos e os assassinaram friamente. Eram seis jesuítas mais a cozinheira e sua filha, que tinha 15 anos”.

O sacerdote jesuíta Bruno Reanud explica que o conflito terminou legalmente na década de 1990 e a tendência interna em El Salvador é de não reabrir os julgamentos contra os militares por crimes de lesa humanidade desse período, para não incitar novamente o conflito armado.

"Sabe-se, perfeitamente, quem são os responsáveis por esses massacres e crimes, mas ainda não começou o processo para acabar com a impunidade. Pode ser que, agora, com a chegada à presidência de Salvador Sánchez Cerén, sim, sejam abertas as portas para a justiça”.

Monsenhor Romero, santo dos pobres do continente

Enquanto João Paulo II foi papa, não avançou o processo de beatificação de Monsenhor Romero. No entanto, Bruno Renaud afirma que Romero já foi santificado pelas comunidades populares da América Latina.

"Dois anos depois do seu martírio, monsenhor Romero foi canonizado por todas as comunidades cristãs e tomado por São Romero da América. Assim afirmou o monsenhor Pedro Casaldáliga, bispo brasileiro que se solidarizou plenamente com ele”.

"Ainda não chegou o tempo para que todo o povo salvadorenho, como um só homem e uma só mulher, venere monsenhor Romero como um só bandeira. Romero foi realmente um grande santo nacional de El Salvador”.

Renaud acrescenta que os países da América Latina, em particular a comunidade cristã e, em especial, os pobres do continente, têm muitos motivos para considerar monsenhor Romero como seu santo patrono.

"Pessoalmente, tenho a absoluta convicção de que as décadas que virão reconhecerão um papel fundamental dentro da recristianização da igreja de El Salvador e da América Latina”.

"Monsenhor Romero é uma tocha, uma luz que brilha nas atuais condições latino-americanas. Indubitavelmente ele está destinado a ter muito mais visibilidade nas décadas que virão, mas já há bastante tempo, os pobres e as comunidades cristãs escolheram monsenhor Romero como seu santo padroeiro”.


La Radio del Sur
Adital

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