sexta-feira, 27 de março de 2015

Argentina vai recorrer à ONU contra anúncio do Reino Unido de militarização das Malvinas



Para chanceler argentino, anúncio de US$ 268 mi em armamento e infraestrutura é “provocação” e insulto para a ONU, que pede que “aceitem negociar”

“Enquanto a Argentina se apega ao direito internacional, a Grã Bretanha aposta no armamentismo” nas Malvinas. A declaração foi dada pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, na noite desta após quarta-feira (25/03), após o anúncio de que o país europeu aportará US$ 268 milhões em infraestrutura militar no território que é reivindicado historicamente pelos sul-americanos. Como resposta, o governo da presidente Cristina Kirchner apresentará uma denúncia no Comitê de Descolonização da ONU.
Agência Efe

Vista da praça das Malvinas, em Ushuaia

Em sua conta no Facebook, a mandatária argentina chamou o anúncio de “triste e lamentável paradoxo”, já que foi realizado em 24 de março, dia em que é lembrado o 39º aniversário do golpe militar que contou “com o silêncio cúmplice de muitas potências”. Kirchner ainda criticou que “as Ilhas Malvinas sejam usadas como campanha eleitoral no Reino Unido e que se invoque uma guerra iniciada pela ditadura genocida que significou a maior tragédia para o povo argentino”.

O chanceler Timerman também reiterou que a “América Latina e o Caribe decidiram ser uma zona de paz”, o que contrasta com as declarações do ministro de Defesa inglês, Michael Fallon. Na terça-feira (24/03), na Câmara dos Comuns do Parlamento britânico, Fallon anunciou o deslocamento de dois helicópteros de guerra Chinook e a atualização do sistema de mísseis antiaéreo nas Malvinas, como resposta preventiva a um suposto ataque argentino.

Mas, de acordo com Timerman, “não há nenhuma hipótese de conflito da Argentina com qualquer país do mundo, apesar de a Grã Bretanha seguir em estado de guerra” e ressaltou que seu país “se apega ao direito internacional e às resoluções das Nações Unidas”.
Flickr/ Opera Mundi

Vista do sinal de boas-vindas para as Ilhas Malvinas

Para o chanceler, a ação tem como objetivo “favorecer a indústria armamentista e justificar uma política agressiva por parte do primeiro ministro [David] Cameron, que apela a um público muito conservador”. E concluiu que a decisão é uma “provocação não só para a Argentina, como também um insulto para a ONU, que pede que aceitem negociar”.

Ameaça russa

Na justificativa para o aumento da militarização, Fallon disse também que o reforço tem o objetivo de reforçar a defesa diante de um aumento da presença russa ao longo do globo. “Os russos nos ameaçam em muitos lugares diferentes. Por isso estamos comprometidos com a Otan na criação de uma força de reação para tranquilizar os países do leste da Europa e assegurarmos que possamos ir e os ajudar em caso de agressão russa”.
Flickr/ Opera Mundi

Veterano agita a bandeira durante visita ao cemitério de Darwin, onde estão enterrados mais de 230 soldados argentinos

A afirmação tem relação com o suposto fato de que a Rússia estaria ajudando a Argentina a se armar com 12 bombardeiros de longo alcance. A versão foi negada pelo governo argentino.

Para o cientista político e pesquisador do Centro Cultural da Cooperação de Buenos Aires, Juan Manuel Karg, em artigo no site Rebelión, a justificativa está relacionada ao “isolamento” em que a Grã Bretanha se encontra no tema, em contraste com os diversos apoios que a Argentina conseguiu nos últimos anos de diversos fóruns internacionais, entre eles o G77+ China, Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).
Flickr/ Opera Mundi

Detalhe de um cartaz na saída de um supermercado, que mostra um mapa da América do Sul sem a Argentina

“Com o envolvimento do [presidente russo Vladimir] Putin no tema – ainda que a teoria soe um disparate – Cameron poderia buscar novos apoios dos Estados Unidos com relação às Malvinas, principalmente diante das eleições presidenciais que ocorrerão em 2016 [nos Estados Unidos]. (…)

Tentando “anexar” Putin às exigências diplomáticas que a Argentina tem liderado desde 2003 até hoje, Cameron joga uma partida interna – as eleições – e outra externa – tentar aumentar a legitimidade britânica sobre o assunto, que vem sendo questionada fortemente nestes anos. De qualquer forma, continua realizando sucessivas violações às resoluções da ONU, que exortam a Grã-Bretanha a negociar sobre a questão em breve”, conclui Karg.


Vanessa Martina Silva
Opera Mundi

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