domingo, 14 de setembro de 2014

Sanções contra a Rússia: Ocidente vai a jogo e perde


Foto: AP/Christian Lutz

A Europa alargou, com o apoio dos EUA, as sanções contra a Rússia, tendo cometido assim mais um erro, cujas consequências terão efeitos inevitáveis sobre o estado de sua economia.

Desta vez é a suspensão da cooperação na área da extração de petróleo a grande profundidade e no Ártico, as limitações do acesso aos mercados de capitais ocidentais e a proibição de fornecimento de artigos de dupla utilização a uma série de empresas russas da indústria militar. Os norte-americanos não ficam atrás dos europeus. São também introduzidas novas sanções relativamente aos setores financeiro, energético e de defesa da Rússia esperando, como disse o presidente Barack Obama, aumentar o isolamento político de Moscou.

Segundo os peritos, este tipo de ações ocidentais é especialmente extemporâneo no contexto do processo negocial que se iniciou na Ucrânia, quando as partes acordaram uma trégua, mesmo que frágil. É evidente que a intenção de isolar Moscou politicamente não se correlaciona de forma nenhuma com o objetivo de reduzir a tensão do conflito ucraniano. Esse é um objetivo completamente autônomo e isolado que o Ocidente persegue, tentando fazer ajoelhar a Rússia.

Na opinião do presidente da Duma de Estado Serguei Naryshkin, os promotores das sanções antirrussas estão completamente desfasados da realidade e vivem no seu próprio mundo ilusório. Um ponto de vista idêntico é apoiado pelo representante permanente da Rússia na União Europeia Vladimir Chizhov:

“A União Europeia demonstrou com essa decisão que vive numa espécie de realidade paralela. Introduzir novas sanções e simultaneamente incumbir da elaboração até ao final de setembro (ou seja, nas duas semanas que faltam) de propostas para seu cancelamento é até um contrassenso burocrático, quanto mais político.

“A União Europeia, juntamente com seus amigos do outro lado do Atlântico, tem declarado ao longo de vários meses que seu objetivo principal era a redução do conflito no sudeste da Ucrânia e apelado à Rússia para que esta desse passos nesse sentido. Hoje foi ela própria a promover a escalada de tensão. A Europa estimula o ‘partido da guerra’ em Kiev.”

A introdução de mais sanções pela União Europeia contra a Rússia pode resultar numa desestabilização do cessar-fogo em vigor na Ucrânia. Esse é o receio, por exemplo, do vice-presidente da comissão de Assuntos Internacionais, Defesa e Forças Armadas do Senado francês, Yves Pozzo di Borgo. A Europa comete um grande erro, constatou o político.

Entretanto as sanções não serão decisivas para o sucesso empresarial russo. Os montantes afetados pelo Estado excluem qualquer influência da instável conjuntura política ocidental sobre os indicadores econômicos.

Na opinião de Robert Oulds, diretor do centro de estudos independente The Bruges Group, a União Europeia quer alargar sua influência a leste e o único obstáculo no seu caminho é a Rússia. Mas o presidente Putin não deixará que os políticos europeus vistam ao seu país uma camisa de forças, diz o perito. Na opinião dele, o Ocidente deve cooperar com a Rússia, em vez de olhá-la como um inimigo.

Robert Oulds está convencido que o novo pacote de sanções é o início de uma guerra comercial. O fato de isso acontecer apesar da frágil estabilização da situação no Sudeste da Ucrânia apenas significa que a Europa quer castigar a Rússia por sua insubmissão. Em geral, a maioria dos analistas está convencida que o Kremlin irá continuar a prosseguir uma política soberana interna e externa que corresponde a seus interesses nacionais, quer alguém no Ocidente goste disso ou não.

Depois das sanções aprovadas pela União Europeia, a Rússia poderá tomar medidas de retaliação, o que irá dificultar significativamente o regresso das relações entre Moscou e o Ocidente para os níveis anteriores. Entretanto, as contrassanções parecem bastante mais cuidadosas e ponderadas, diz o analista político Alexei Zudin. A linha de conduta russa se resume a tomar medidas de resposta que favoreçam os produtores nacionais e não prejudiquem os consumidores. O principal é que nova vaga de sanções irá mobilizar a sociedade russa, irá uni-la com base em seu patriotismo. Ou seja, o Ocidente irá obter um efeito exatamente contrário ao pretendido.


Instituto João Goulart

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