O
jornalista Felipe Recondo decidiu ir à Justiça pedir reparação por ter
sido destratado pelo ministro aposentado Joaquim Barbosa, à época
presidente do Supremo Tribunal Federal. O repórter ajuizou na 15ª Vara
Cível de Brasília uma ação de compensação por danos morais, alegando ter
sido ofendido pelo ministro, que o mandou “chafurdar no lixo” e o
chamou de palhaço.
O episódio aconteceu em março de 2013, quando
Barbosa saía de uma sessão do Conselho Nacional de Justiça, do qual
também era presidente. Recondo o interpelou e ensaiou uma pergunta:
“Presidente, como o senhor está vendo...” E foi interrompido: “Não estou
vendo nada. Me deixa em paz, rapaz! Me deixa em paz! Vá chafurdar no
lixo como você sempre faz!”
Recondo, que à época era repórter do jornal O Estado de S. Paulo
especializado na cobertura do Supremo (ou setorista, no jargão da
imprensa), e sempre teve uma relação cordial com Barbosa, estranhou. “O
que é isso, ministro? O que houve?”. “Eu estou pedindo, me deixe em paz.
Eu já disse várias vezes ao senhor. Várias!”, respondeu o ministro.
Recondo insistiu, claro: “Mas eu tenho que fazer a pergunta. É meu
trabalho, ministro”. “É, mas eu não tenho nada a lhe dizer. Não sei, não
quero nem saber do que o senhor está falando”, ouviu. Em seguida, na
entrada do elevador, Barbosa finalizou: “Palhaço!”.
Para o
jornalista, o episódio o marcou como um antagonista de Barbosa, que à
época gozava da imagem de uma espécie de herói nacional por ter sido
sorteado relator da Ação Penal 470, o processo do mensalão. Ele é
representado nos autos pelos advogados Danyelle Galvão, Renato Faria e Leonardo Furtado.
A petição encaminhada à Justiça narra diversas mensagens de apoio a
Joaquim Barbosa postadas na internet, ao passo que Recondo foi
hostilizado.
Segundo o pedido, o “ataque” de Joaquim Barbosa “impingiu ao autor a pecha de persona non grata
na mais alta corte do país, limitando em muito seu acesso a
considerável parte dos trabalhos do tribunal”. “Ou seja, da noite para o
dia, o autor passou a ser atacado por incontável número de
simpatizantes do réu e saiu da condição de jornalista premiado [Recondo é vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo de 2012, na categoria regional],
integrante da elite de profissionais dedicados à cobertura do
Judiciário, para inimigo da Presidência do STF”, conclui a petição.
O
pedido também conta que, depois do episódio, Joaquim Barbosa passou a
perseguir o jornalista.
Ficou famosa a história da mulher de Recondo,
que ocupa cargo comissionado no gabinete do ministro Ricardo
Lewandowski. Barbosa tentou mandar o colega, hoje presidente do STF e na
época vice-presidente, demiti-la. Entretanto, Lewandowski se recusou,
uma vez que o presidente não tem ingerência sobre os gabinetes dos
colegas.
De acordo com a petição, “o caráter difamatório e
ofensivo é nítido, tendo o ex-ministro extrapolado, em muito, o
comportamento aceitável do homem médio”. A peça não pede uma indenização
específica e deixa para que o Judiciário arbitre um valor conforme a
jurisprudência. Atribui à causa, “para fins fiscais”, o valor de R$ 1
mil.
Pedro Canário
Conjur
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