sábado, 2 de julho de 2011

Os Arquivos Secretos da Ditadura - reescrever a nossa história com justiça

A polêmica que envolve a possibilidade da abertura dos arquivos secretos referentes ao período da ditadura militar (1964 a 1985) está causando debates acalorados. Existem os que querem a elucidação dos fatos, felizmente a maioria da população, e os que desejam o seu ocultamento, infelizmente uma minoria que detém impressionante poder de pressão.

O fato mais relevante é que, segundo a ministra Ideli Salvati (Relações Institucionais) a presidente Dima Rousseff sancionará o que o Congresso Nacional decidir: “A presidenta Dilma já colocou que esse ponto é inegociável. Não se pode permitir qualquer tipo de classificação de sigilo em relação as questões relacionadas a direitos humanos. Isso ela não admite em hipótese alguma”.

Desde a divulgação do trabalho organizados pelo ex-arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns e pelo pastor Jaime Wright intitulado “Brasil Nunca Mais” publicado em 1986 e baseado em informações de mais de 1 milhão de páginas contidas em 707 processos do Superior Tribunal Militar, é ainda o mais consistente material que se tornou público, com detalhes como a identificação de vítimas e de 444 torturadores.

Brasil, um país fora-da-lei

Com a não punição dos torturadores e a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal à lei que os anistiava, somada à imobilidade do governo em bancar um projeto que punisse os criminosos, o Brasil foi condenado, no final do ano passado pela OEA (Organização dos Estados Americanos) por desrespeito aos direitos humanos, tratado este que aderiu espontaneamente em 1996 e que pode tornar o Brasil um país fora-da-lei.

Mas a brutal repressão, torturas, mortes, corrupção, e incontáveis crimes não aconteceram somente em áreas longínquas como no planalto central ou nos porões do Doi-Codi em São Paulo, ocorreram em quase todos os atuais 5565 municípios brasileiros, e nossa região como fica?

Os “arquivos” do Alto Tietê

Sabemos que o período correspondente aos governos militares praticamente passaram em branco nos registros oficiais da história da maioria de nossas cidades e agora pode ser o momento de conhecermos melhor esse processo que resultou na formação atual e que favoreceu determinados setores da sociedade em prejuízo de outros, ocasionando a concentração de renda e poder de um lado, e de grandes camadas empobrecidas de outro.

O aparato repressor e seus componentes como empresários que o financiavam, trabalhadores que estavam na famosa lista-negra que eram demitidos e os impedia de arrumar outro emprego ou emprego decente; pessoas que eram espancadas e presas por terem cabelos compridos, serem pobres, terem comportamento diferente ou por simplesmente estarem namorando em locais públicos; pessoas que desapareceram; os que aderiram à resistência ao regime militar e tiveram que viver na clandestinidade; os locais de desova e tortura e seus instrumentos como os médicos que davam os atestados de óbitos ou os anulavam nos manicômios, famílias que foram separadas ou destruídas, a corrupção que sequer podia ser denunciada e muito menos investigada, a brutal concentração de riquezas com as facilidades proporcionadas pelo poder quase absoluto de oligarquias locais; o surgimento de alguns novos-ricos ...

Também tivemos os nossos Boilesens, Shibatas e Fleurys...

Se o assunto for levado com a seriedade que merece, o movimento social, historiadores e todos aqueles que têm compromisso com a Democracia devem participar.

O debate está aberto !






 
Edição n° 49  do jornal Fatos da Região

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