De abril de 2011 até a semana passada, 165 moradores de rua foram mortos no Brasil. O número divulgado hoje (15) pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH) representa pelo menos uma morte a cada dois dias.
Segundo a coordenadora do centro, Karina Vieira Alves, as investigações
policiais de 113 destes casos não avançaram e ninguém foi identificado e
responsabilizado pelos homicídios. O CNDDH também registrou 35
tentativas de homicídios, além de vários casos de lesão corporal.
O Disque 100, serviço mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República para receber denúncias sobre violações de
direitos humanos, registrou, durante todo o ano passado, 453 denúncias
relacionadas à violência contra a população de rua. Casos de tortura,
negligência, violência sexual, discriminação, entre outros. As unidades
da Federação com o maior número de denúncias em termos absolutos foram
São Paulo (120), Paraná (55), Minas Gerais e o Distrito Federal, ambos
com 33 casos.
Embora expressivos, os números não traduzem a real violência a que
estão expostas as pessoas que vivem nas ruas. De acordo com Karina,
muitos dos crimes cometidos contra esta população não são devidamente
notificados. Além disso, a falta de dados confiáveis que torne possível
comparar a atual situação não permite concluir se a violência contra o
grupo vem aumentando ao longo dos últimos anos. “Este é o número de
denúncias [notificadas]. Sabemos que há problemas muito graves que não
são denunciados”, disse a coordenadora-geral da Ouvidoria Nacional de
Direitos Humanos, Ivanilda Figueiredo, sobre os números do Disque 100.
Segundo os representantes de entidades de moradores de rua que
participaram, hoje (14), da reunião extraordinária do Comitê
Intersetorial de Monitoramento da População em Situação de Rua, em
Brasília (DF), existe atualmente uma escalada da violência. De acordo
com eles, as recentes mortes e agressões a moradores de rua no Distrito
Federal e em Mato Grosso do Sul não foram casos isolados e só chegaram
ao conhecimento da imprensa porque as famílias das vítimas exigiram
providências.
“Eu todo dia recebo e-mails sobre mortes de moradores de rua.
Elas estão acontecendo e vão continuar ocorrendo. Por isso, queremos uma
ação enérgica do governo federal”, declarou Anderson Lopes,
representante paulista do Movimento Nacional de População de Rua. Na
opinião do representante mineiro do movimento, Samuel Rodrigues, o país
vive um momento triste com os episódios de violência contra a população
de rua. “Vivemos um momento bastante triste. Em 2004, o movimento
nacional surgiu em função de uma morte. Naquele momento, nós discutíamos
os direitos da população de rua. Hoje, estamos aqui discutindo o seu
extermínio. Estamos lutando para não morrer”.
A reunião do comitê estava agendada para o fim do mês, mas foi
antecipada após um comerciante ter contratado um grupo de jovens para
matar dois moradores de rua de Santa Maria (DF). “Temos a
responsabilidade de responder diretamente a esta escalada de violência e
de mortes que estão ocorrendo nas ruas. Não se trata mais de fatos
isolados”, disse a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do
Rosário, se referindo a “ação de grupos de extermínio” agindo no
Distrito Federal, em Mato Grosso do Sul, Alagoas, São Paulo, na Bahia e
em outros estados. “São grupos que banalizam a violência e que não
reconhecem, em quem está [vivendo] nas ruas, a condição humana”.
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Repórter Agência Brasil
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