terça-feira, 31 de março de 2015

Impasse entre Irã e potências compromete acordo nuclear na véspera de fim do prazo

Teerã se recusa a enviar urânio enriquecido ao exterior, medida considerada essencial pelos EUA; data final para acordo vence nesta terça (31/03)

As negociações para um acordo nuclear entre o Irã e as seis potências mundiais (P5+1) — formada pelos países que compõem o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) mais a Alemanha — chegaram nesta segunda-feira (30/03) a um impasse. A falta de entendimento pode comprometer o acordo na vésperas do prazo final para que ele seja viabilizado, após 15 meses de discussões. Isto, pois Teerã não aceita a condição de ter que enviar reservas de urânio enriquecido para o exterior. Reunidos desde domingo (29/03), em Lausana, na Suíça, o grupo, que tem até o dia de amanhã para consolidar o acordo, pretende evitar que Teerã desenvolva armas nucleares.

De acordo com o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, “houve alguns avanços e alguns retrocessos nas últimas horas”, como disse em declarações à agência Reuters. Já o porta-voz da Casa Branca, Eric Schultz, disse que não vai antecipar um fracasso e que “as negociações continuarão até o limite”.
Agência Efe

Detalhes técnicos do acordo poderá se estender por mais três meses

De acordo com agências de notícias, o Irã havia concordado em enviar as reservas de urânio enriquecido para a Rússia. O objetivo é que o material não fique acessível para o uso em um eventual programa armamentista. Mas, na noite de ontem (29/03), o vice-chanceler do país, Abbas Araqchi, disse à agência AFP que “a exportação de nossos estoques de urânio enriquecido não está em nosso programa, e nós não planejamos enviá-los para o exterior”.

Oficiais norte-americanos envolvidos na discussão, no entanto, disseram ao jornal The New York Times, que a exportação de urânio enriquecido é um requisito indispensável para que se chegue a um acordo.

Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China querem a suspensão, por pelo menos dez anos, das atividades nucleares consideradas sensíveis.

O Irã, por sua vez, nega que esteja desenvolvendo armas atômicas e reivindica o direito de enriquecer urânio para fins médicos e para a geração de energia.

Carlos Latuff

As potências mundiais estudam permitir que o Irã conduza um trabalho limitado e monitorado de enriquecimento para fins médicos, em uma instalação subterrânea.

Todas as partes de um acordo nuclear são interligadas. Assim, se não houver consenso sobre um ponto, as negociações como um todo podem fracassar.

Sanções

A condição imposta por Teerã para levar adiante as negociações é o fim das sanções internacionais.

As potências ofereceram uma gama de medidas que inclui o levantamento do embargo europeu ao petróleo iraniano e a suspensão das restrições bancárias, bem como o fim das medidas impostas pelos Estados Unidos.

Com relação às sanções impostas pela ONU, fruto de seis resoluções condenatórias do Conselho de Segurança, a proposta contempla um processo gradual vinculado à comprovação de que Teerã cumpre os compromissos e não tentará fabricar armas atômicas.

Washington defende que diante da menor suspeita de que o Irã não cumpra com o que foi acordado, as sanções seriam impostas novamente de maneira automática. A Rússia, no entanto, é contra este cenário e defende que, em caso de violação do acordo, o Conselho de Segurança deve decidir o que fazer. A posição é apoiada pela China.

Reações

O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, deixou nesta segunda-feira (30/03) as negociações em Lausana, mas, de acordo com a porta-voz adjunta do ministério de Relações Exteriores da Rússia, María Zajarova, deverá voltar caso “haja entendimento realista sobre o acordo”.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por sua vez, afirmou que os termos do acordo com o Irã são piores do que o seu país temia. No domingo (29/03), ele disse em reunião do gabinete: "Este acordo, como parece estar emergindo, confirma todos os nossos medos, e ainda mais do que isso".

"O acordo envia a mensagem de que não apenas não se castiga a agressividade, como também a recompensa", disse o líder israelense. No início do mês, às vésperas as eleições em Israel, Netanyahu fez um discurso no Congresso dos EUA sobre as possíveis ameaças decorrentes desse acordo. Para ele, a negociação “só tornará o Oriente Médio pior”. Além disso, o acordo “não irá prevenir que o Irã tenha acesso a armas nucleares, mas vai garantir que isso ocorra”. Para ele, Teerã ludibria as autoridades internacionais e não deve ter acesso a um programa nuclear.


Opera Mundi

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